terça-feira, 28 de julho de 2009

Lançamento do livro do Professor José Maria Nóbrega

Lançamento do livro: "Semidemocracia Brasileira: As Instituições Coercitivas e Práticas Sociais"


No dia 24 de agosto do presente ano, estarei lançando meu livro intitulado "Semidemocracia Brasileira: as instituições coercitivas e práticas sociais", pela Nossa Livraria Editora. Com prefácio de Jorge Zaverucha, Phd. em Ciência Política pela Universidade de Chicago, EUA.

Local: Instituto Teotônio Vilela de Pernambuco
Rua Viscondessa do Livramento, 226, Derby
Horário: 19 horas

No mesmo dia será realizado o "ITV falando com o autor", onde serei entrevistado pelo cientista político André Régis.



*Retirado do blog do próprio autor.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

ACCOUNTABILITY E ESTADO DE DIREITO COMO PONTOS IMPORTANTES, SEGUNDO PESQUISA DO PNUD.

O que precisa mudar no Brasil para termos uma vida melhor?

CARTA CAPITAL 24/07/2009 17:31:59

Ricardo Young

O que precisa mudar no Brasil para termos uma vida melhor? Esta pergunta foi feita pelo escritório brasileiro do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD Brasil) pela internet e em sete audiências públicas para escolher o tema do próximo Relatório de Desenvolvimento Humano do Brasil, que deve sair no início de 2010. Quinhentos mil brasileiros de todas as idades, faixa social, sexo e escolaridade deram sua resposta, por internet ou nas audiências. Além disso, graças às parcerias com a TIM e a Natura, mais de dois milhões de brasileiros foram mobilizados por SMS e um milhão de mulheres, pela rede de revendedoras.


Foi uma metodologia inédita no mundo, mais uma reflexão do que uma pergunta, revelando as grandes áreas de preocupação dos brasileiros.


O resultado surpreendeu os pesquisadores do PNUD. E a nós, também: a “receita” dos brasileiros para uma vida melhor, de acordo com a pesquisa, passa por “valores” como respeito, responsabilidade e justiça. Honestidade, paz, consciência e ausência de preconceito também foram largamente citadas.


Flávio Comim, diretor do PNUD Brasil, aponta a forma como a pesquisa foi conduzida como fundamental para se chegar a este resultado. Uma pergunta aberta - o que precisa mudar no Brasil para termos uma vida melhor ? - permitiu às pessoas expressar suas opiniões mais profundas. Por isso, o tema dos valores aflorou. Explicando: as respostas diretas dadas pelas pessoas mencionavam educação, saúde, segurança e emprego como as grandes vertentes para uma vida melhor. Só que, por meio de uma avaliação transversal destas respostas, a equipe de pesquisadores percebeu que a “fala oculta” trazia preocupações com os valores que organizam a sociedade. Por exemplo, quando havia menção à melhoria na educação, os participantes preocupavam-se com a falta de formação em valores nas escolas, muito mais do que com a falta de qualidade do ensino formal. No quesito violência, a ênfase recaía sobre as agressões contra as pessoas em detrimento daquelas contra a propriedade (como roubo), com forte inquietação a respeito da violência doméstica. De um modo geral, as pessoas acham que a sociedade lida com os conflitos mais prosaicos de forma violenta.


Interessante desta pesquisa é verificar que as reivindicações objetivas apresentaram conexão com o déficit de valores. E que este déficit, para os entrevistados, começa em casa!


Outro recorte que aparece é a atenção cada vez maior dada às atitudes dos atores sociais, como empresas e políticos. No caso do setor produtivo, quanto maior o comprometimento real das empresas com “valores” como direitos fundamentais da pessoa (combate ao trabalho escravo, respeito aos direitos trabalhistas, bom ambiente profissional) menor tende a ser a rejeição por parte da sociedade. Quanto aos políticos, bem, precisaremos verificar o resultado das urnas em 2010.


As respostas levaram o PNUD ao desenvolvimento de um novo conceito de valor: nem só ético, nem só moral, nem só financeiro. Valor vinculado ao dia-a-dia das pessoas. E este será o tema do relatório que a entidade publicará no início de 2010.


Se a sociedade brasileira expôs como preocupação maior os valores como justiça, respeito e responsabilidade, é possível que o país realmente se transforme em menos tempo do que se imagina. Mais uma vez, fica evidente que as empresas engajadas no movimento da responsabilidade social têm um papel importante a desempenhar nesta transformação: precisam aprofundar cada vez mais a transparência e os valores em sua própria gestão, disseminá-los para a cadeia produtiva e, com isso, dar exemplo para outros atores sociais.


Sem justiça, não existe democracia nem Estado de Direito. E, sem Estado de Direito, os negócios também não funcionam adequadamente, pois voltaremos ao território do vale-tudo.


Que os empresários saibam entender o profundo recado enviado pelos brasileiros, por meio desta pesquisa do PNUD, e adotem práticas cada vez mais transparentes, baseadas em crescimento econômico, justiça social e equilíbrio ambiental.

O Senado e Sarney

Por José Maria Nóbrega – cientista político

Será que o possível afastamento de Sarney seria suficiente para mitigar práticas patrimonialistas dentro do Senado brasileiro? Não acredito nesta remota possibilidade. O Senado, independente da figura lamentável de seu presidente – e alguns ex-presidentes -, é uma instituição que tem em seu âmbito uma cultura de nepotismo, clientelismo e patrimonialismo que perpassa os escândalos corriqueiros a que estamos acostumados a ver.

Os mais diversos atores políticos, das mais diversas cores ideológicas, se comportam na coisa pública como se ela fosse privada. Outros presidentes também se afastaram por escândalos privados (e domésticos) dentro do Senado. Empregar parentes em gabinetes e nos mais diversos setores da Casa é prática comum dentre boa parte dos senadores da Nova República.

Utilizar os recursos públicos com os mais diversos fins particularistas também é prática comum dentro daquela instituição. A cultura clientelística que nos envolve há séculos está fortemente presente dentro do Senado, é difícil prever mudanças institucionais com a simples reclusão/renúncia/cassação do presidente da Casa. A cultura importa e enquanto for a mesma, estimulando os mais diversos “homens cordiais” dentro da coisa pública, dificilmente haverá mudanças consistentes.

O presidente Lula afirmou que a biografia do indivíduo está acima das leis e que o “crime antecipado” (por favor, gostaria que um especialista na área Penal me explicasse o que é isto) cometido por Sarney, não pode ser julgado com a “pena de morte”, pois há diversos tipos de crimes e que eles devem ser julgados conforme o seu peso. Ora, Lula já afirma que houve crime! Mas, se é “hábito” do nosso Legislativo agir de forma corporativista em relação a atos patrimonialistas e exclusos com os recursos da população, pode até se afirmar que não houve crime, e muito menos decoro nos atos de Sarney.

Com isso, afirmo que dificilmente o afastamento do presidente do Senado terá algum impacto positivo no comportamento político do nosso parlamento.

sábado, 25 de julho de 2009

Artigo sobre livro do projeto Nova Agenda no Valor Econômico

O jornal Valor Econômico publicou em seu caderno Eu& de 23/7 o artigo “Mudar é preciso, mas sem apelos populistas”, de João Carlos de Oliveira, sobre os dois volumes da obra América Latina, desafios da democracia e do desenvolvimento. O texto está disponível na página iFHC na mídia, do site do iFHC (http://www.ifhc.org.br/).

Os livros têm como editores Fernando Henrique Cardoso e Alejandro Foxley, e são resultantes do projeto Uma Nova Agenda Social e Econômica para a América Latina, conduzido pelo iFHC e pela entidade chilena CIEPLAN.

domingo, 19 de julho de 2009

Ideologia só serve quando útil

Por José Maria Nóbrega Júnior – cientista político
Nóbrega.jr.ufpe@gmail.com

O que vem acontecendo no Senado e as atitudes do Presidente Lula, demonstram que a ideologia passa a ser apenas um recurso utilizado quando serve para interesses eleitoreiros. Quando Joseph Schumpeter, em sua crítica a teoria clássica da democracia rousseauniana, advertiu que a mesma nada mais era que uma fraseologia utilizada por políticos demagogos que tinham como interesse, na verdade, atrelar votos a sua pretensão de vencer eleições, estava totalmente correto.

Boa parte dos políticos utiliza a estratégia maquiavélica para almejar seus fins. Se a ideologia socialista, moralista, ética for interessante para alcançar dividendos eleitorais, ótimo! Mas, se para manter o poder, ou alcançar a vitória em um pleito eleitoral, for necessário utilizar de mecanismos exclusos para tal fim, por que não? É o que se observa nas ações do “grande guia”. O PT e os petistas fazem o que Lula quer. Se for para apoiar o atraso na política no intuito de vencer eleições, se faça! Não medir esforços para manter o Sarney na presidência do Senado, abraçar e acariciar Fernando Collor, fazer discursos elogiando Renan Calheiros - todos estes políticos que representam o atraso regional da política coronelista e retrógrada que reporta a períodos da República Velha -, qual o mal nisso? O que importa é vencer as eleições e manter o “projeto” de governar o país com o discurso da dita “governabilidade”.

O Lula se diz corintiano, mas se for vantagem eleitoral mudar de time, virar palmeirense, por exemplo, não duvido nada que o faça! O PT perdeu sua identidade, se é que um dia teve, e vem mantendo uma política de alinhamento ao “grande guia” que mais lembra o Partido Nacional Socialista Alemão (isso mesmo, o NAZI!), onde nenhum membro do partido pode ir de encontro ao que o líder aponta como certo, pois certamente será punido!

Por isso, devemos ficar atentos! Ideologia no Brasil só serve quando é útil, ou seja, quando ajuda no discurso eleitoral. Esquerda ou direita, centro-direita, centro-esquerda, tudo isso perdeu a razão de ser para um pragmatismo pelo poder, sem levar em consideração o bem comum (que é difícil de ser definido) e o respeito à democracia.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

O golpe militar em Honduras: o risco da semidemocracia

Por José Maria Nóbrega – Cientista Político

Nóbrega.jr.ufpe@gmail.com

O golpe militar em Honduras serve como mais um exemplo para avaliarmos a qualidade/solidez das democracias latino-americanas. Já escrevi sobre o modelo semi-autoritário de Chavez na Venezuela, observando que eleições e pluripartidarismo são mecanismos importantes, mas insuficientes para consolidar a democracia em um determinado país. Agora o golpe militar em Honduras nos leva, mais uma vez, a abordar o tema da consolidação democrática nos países da América Latina. Questiono: quais são os critérios mínimos que se fazem necessários para a existência de uma democracia sólida na América Latina?

Honduras é um país que tem em seu histórico uma ilimitada onda de golpes militares, mas que desde 1986 vinha sofrendo uma estabilidade eleitoral – sempre vigiada pelos militares - com governantes se sucedendo no poder (ou seria melhor dizer, governo). Por que agora esta “estabilidade” eleitoral foi quebrada? Para muitos cientistas políticos a existência de eleições e de alternância no governo é ponto suficiente para que em determinado país exista democracia (Przeworski et ali, 2000; Schumpeter, 1984; Dahl, 1969). Mas, o que dizer de um país que vem tendo eleições e de uma hora para outra se mudam as regras democráticas ou se sucedem golpes de conteúdo militar em sua história política? É importante ressaltar o conceito de democracia, quase sempre negligenciado pelos analistas políticos de plantão.

O que é democracia? Existem quatro critérios mínimos para se definir minimamente o conceito de democracia (Mainwaring et ali, 2001): 1. Promover eleições competitivas, livres e limpas para o Legislativo e o Executivo; 2. Pressupor uma cidadania adulta abrangente e inclusa no processo de escolha (voto); 3. Proteger as liberdades civis e os direitos políticos; e 4. Efetivar governos eleitos que de fato governam e onde os militares estejam sob jugo dos civis (idem, 2001: 645). Os critérios um e dois estão contemplados na maioria das teorias da democracia de caráter subminimalista, que reportamos a Przeworski et ali (2000) e Schumpeter (1984), bem como Dahl em Poliarquia, com sua visão bidimensional da democracia/poliarquia (1969). Critérios estes de conteúdo liberal, importantes para qualquer regime político democrático, mas insuficientes para a democracia em sua plenitude. Devemos nos lembrar sempre que democracia não é mera escolha dos governantes em meio a um mercado limitado de políticos profissionais recrutados de uma elite política. Democracia requer uma atenção especial à forma como o regime político é conduzido e como os cidadãos são vistos pelas instituições ditas democráticas (não só as instituições que passam pelo crivo eleitoral).

No caso de Honduras, a quarta propriedade – que se destina a avaliar as autoridades eleitas no que diz respeito ao genuíno poder de governar sem serem ofuscados por atores políticos não eleitos, como os militares, por exemplo, que dominam nos bastidores (Valenzuela, 1992) – aparece como ponto nevrálgico no que aconteceu em sua semidemocracia (ou semi-autoritarismo segundo Ottaway, 2003). Se as eleições são livres e limpas, mas elegem um governo que não consegue controlar algumas das principais arenas políticas pela causa na qual os militares fazem tal controle, então esse sistema político não acomoda uma democracia (Mainwaring et ali, 2001: 650-51).

Teóricos do subminalismo democrático afirmam:
“Em algumas democracias (de que Honduras e Tailândia são protótipos), o governo civil não é mais que uma delgada camada encobrindo o poder militar que é, de fato, exercido pelos generais reformados. Mas enquanto os governantes forem eleitos em eleições nas quais outros grupos tenham chance de vencer e enquanto não usarem o poder dos seus cargos para eliminar a oposição, o fato de o chefe do Executivo ser um general ou um serviçal de general não acrescenta nenhuma informação relevante” (Pzreworski et ali, 2000: 35).

A definição de democracia calcada nesta filosofia não é completa, e é perigosa também. Uma democracia não se sustenta sem respeito integral aos direitos fundamentais (civis, humanos e políticos) e um efetivo controle civil sobre os militares, o que não ocorre com os militares em Honduras. A Tailândia em 2006 sofreu um golpe militar depois que seu primeiro ministro foi acusado de corrupção. Instituições democráticas não são apenas aquelas ligadas ao processo político/partidário/eleitoral. O golpe militar em Honduras nos faz refletir sobre a importância do controle efetivo dos militares na América Latina. Com uma história sucessiva de golpes militares no século XX, podemos ter a história se repetindo no século XXI, onde Honduras aparece como um exemplo importante de análise dessa questão.

Em suma, e respondendo a questão inicial do artigo, para a consolidação da democracia nos países latino-americanos – e aí incluindo todos os países, inclusive o Brasil – os quatro critérios mínimos do conceito de democracia são imprescindíveis. Além do efetivo controle civil sobre os militares – ressaltar que a militarização da segurança pública no Brasil é uma prerrogativa dos militares em questões de ordem civil – deve vir acrescido de eleições limpas, livres e pluriparditárias e com direito a sucessões/alternâncias se assim a maioria quiser; com direitos civis e políticos garantidos para a ampla maioria da população (sem critérios de distinção e perante isonomia jurídica); daí minimamente constituindo um ambiente/sistema/regime democrático sólido. Tais critérios não são vistos em sua concretude em nenhum país da América Latina.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Nota publicada no Jornal de Commercio - Domingo, 05.07.2009

Plano Real não rende mais voto
Publicado em 05.07.2009

O PSDB faz o maior barulho para marcar os 15 anos do Plano Real e reabilitar-se como aquele que tem a tutela do projeto que trouxe a estabilidade da economia. Na próxima terça (7), voltará a comemorar o aniversário do Real em um grande evento no Senado, em Brasília. O PT nem um pio. Nada. O lançamento de uma cédula comemorativa ou algo do gênero? Nada. Precisava, para cravar sua rubrica no plano que trouxe solidez à economia e que hoje talvez seja muito mais debitado na conta do PT do que na do PSDB? Se pensarmos pela ótica do cientista político André Regis, presidente do Instituto Teotônio Vilela do PSDB local, a resposta é não.

Segundo Regis, a bandeira do Real se “exauriu completamente”. Embora tenha sido o maior programa na área da estabilidade econômica que resultou no sucesso eleitoral, por duas eleições, e no 1º turno, de um presidente da República – FHC – “o Real não é mais associado a um partido político. Passou a ser conhecido como um episódio histórico”.

“O Real não serve mais como bandeira para ninguém. Lula também usa o discurso da estabilidade. O Real não é apropriação de um governo. Não dá mais para o PSDB explorá-lo do ponto de vista eleitoral. E é um tema muito abstrato. Não foi à época porque as pessoas estavam sentido seus efeitos”, avalia. Agora, do ponto de vista da disputa pela classe média, batalha que precisa ocorrer segundo Regis, é importante eventos como o que o PSDB realizará na terça. Esse é um público mais consciente, reflexivo, e por onde o PSDB poderá resgatar sua importância do período em que ficou no Poder.

» FESTA DE 15 ANOS DO REAL NO RECIFE

O ITV de Pernambuco também marcará os 15 anos do Plano Real em um evento no Recife em agosto. A ideia do seu presidente, Andre Regis (foto), é trazer o ex-presidente do Banco Central (governo FHC) e um dos protagonista do Real Gustavo Franco para uma palestra na sede do PSDB, no Derby.

» Sem vetos

A intenção de Regis, ao convidar Gustavo Franco, é levar o ITV a estimular mais a participação de acadêmicos e intelectuais na política e na formulação de políticas públicas. “Há um certo preconceito com isso que precisa ser quebrado”.



Nota publicada no Jornal de Commercio - Quarta, 25.05.2009

No discurso e na prática
Publicado em 24.05.2009

O Instituto Teotônio Vilela do PSDB de Pernambuco aprovou na semana passada, junto à direção nacional, um projeto para definir o perfil dos investimentos do governo do presidente Lula no Estado. Doze pesquisadores farão um levantamento minucioso das execuções orçamentárias e transferências voluntárias da União ao Estado para identificar o que foi efetivamente realizado e o que não passa de discurso para cristalizar a imagem de que nunca antes na história desse país um presidente fez tanto por Pernambuco. O trabalho de campo já começa no próximo mês e a primeira fase da pesquisa deve ser concluída em quatro meses.

O presidente do ITV e idealizador do projeto, André Regis, admite que o levantamento servirá de subsídio para o debate eleitoral de 2010. Régis reconhece que enfrentar um presidente com a popularidade e as características de Lula não é um embate fácil de vencer. Mas se a oposição não estiver preparada para o debate a dificuldade será bem maior.

“O que tem de verdade nessa afirmação de que Lula foi o melhor presidente para Pernambuco? O que é fato mesmo é que Lula nunca inaugurou uma obra no Estado, exceto o aeroporto que tem investimento privado. As muitas visitas que o presidente Lula fez a Pernambuco levam à essa compreensão no imaginário popular. Mas o que é prática de fato e o que é retórica? Podem ter ocorrido investimentos aqui de outros governos que o povo desconhece”.

» DE PERNAMBUCO PARA O BRASIL

O projeto de André Regis, de classificação dos investimentos da União em Pernambuco, foi tão bem aceito pela direção nacional do PSDB que o partido vai reproduzí-lo nos demais estados. Régis, na foto entre os presidenciáveis tucanos José Serra e Aécio Neves, correrá o país para explicar o projeto-piloto.

Relatório Semestral

O Relatório Semestral do Instituto Teotônio Vilela Pernambuco foi finalizado recentemente e em breve será disponibilizado aqui no site e também impresso para o público.

O segundo semestre de 2009 promete novas frentes de pesquisa e atuação com o ITV Teses e Dissertações, ITV II Módulo do Curso de Ciência Política, ITV Pesquisa dos Gastos Federais em Pernambuco no Governo FHC/Lula, ITV Memória e ITV Conjuntura.


Aviso: Para os participantes do I Módulo do Curso de Ciência Política que preencheram a carga horária requisitada, os certificados de participação serão entregues em Agosto após uma autenticação em Brasília.

Posse de André Regis no ITV-PE



















domingo, 5 de julho de 2009

O pós-Real

Fernando Henrique Cardoso, O Estado de S. Paulo, 05/07/09

Por mais que o governo atual se tenha omitido em rememorar os 15 anos do Real e que o temor da inflação esteja distante do cotidiano das pessoas, muita gente escreveu nas páginas econômicas dos jornais sobre o significado do controle da inflação desde os “longínquos” tempos de 1994. Não cabe, portanto, voltar ao tema.

Desejo chamar a atenção para conquistas que ainda não fizemos ou para as que não me parecem asseguradas. Os progressos na construção de um país mais estável e melhor - depois do cataclismo inflacionário do final dos anos 70 ao início dos 90 - começaram antes de 1994. A organização do Tesouro Nacional, o fim do orçamento monetário, a abertura comercial, a renegociação da dívida externa em outubro de 1993 e o início da renegociação das dívidas dos Estados e municípios foram passos prévios indispensáveis à estabilização. Da mesma forma como foi importante o saneamento financeiro que levou ao fechamento de cerca de cem bancos sob as regras do Proer e do Proes, na época tão vilipendiados por setores da esquerda e da direita que tinham olhares antiquados. A redemocratização do Brasil deu o marco de referência no qual esses processos ocorreram. As modificações foram feitas às claras, com muita luta no Congresso e nos tribunais, sem “tapetão”.

Até que ponto a estabilidade está garantida? Depende: se o tripé da política econômica (metas de inflação, câmbio flutuante e Lei de Responsabilidade Fiscal) for mantido e levado adiante com consistência, pouco haverá a temer. Mas isso ocorrerá? Pelo que se vê nos últimos meses, há riscos: gastos crescentes, sobretudo onerando a folha de pagamentos, com arrecadação cadente, são sinais inquietantes. Eles não são inquietantes em si mesmos, pois bem poderiam ser justificados, como quer o governo, pelo momento difícil da economia. Então, por que a dúvida?

A dúvida decorre da falta de modificações comportamentais, que não dependem só do governo, mas para as quais a ação pública tem efeito catalisador. Voltou a se instaurar no Brasil um certo desdém quanto à gravidade de “pequenos” desvios que, pouco a pouco, podem tornar-se uma avalanche. Isso não ocorre só na economia. Nela, a aceitação pela opinião pública de um “pequeno” aumento dos gastos com pessoal, por exemplo, embora postergável, apoia-se na ideia de que “é preciso dar emprego”, ou de que “sem um governo com mais funcionários como atender às necessidades sociais do País?” Em si, os comentários seriam justificáveis. Porém a reiteração de práticas fiscais menos rigorosas, e não só no caso de pessoal, mas também de facilidades na concessão de subsídios a empresas, debilita a higidez de um sistema público que nunca foi muito controlado.

Dito assim, de forma quase banal, pode parecer que faço tempestade em copo d?água. Por trás dos exemplos triviais, entretanto, está a verdadeira preocupação: a paralisia do espírito reformista, a leniência com a corrupção, a inversão na relação entre “baixo” e “alto” clero no Congresso - ou mesmo a sua identidade em práticas condenáveis - estão a indicar que a velha cultura corporativista-clientelista está estrangulando o impulso de modernização que se fez sentir com mais força a partir da implantação do Real. Hoje prevalece uma política de concessões continuadas, que agrada aos beneficiários, sejam eles pobres ou ricos, sendo facilmente assimilada e aplaudida. Temo que o pós-Real, tal como está sendo vivido, encubra uma volta ao passado, em vez de ser um passo adiante na modernização do País.

Mesmo noutro aspecto, crucial para a consolidação dos ganhos do Real, o da política de desenvolvimento econômico, há sinais inquietantes. Sempre foi aspiração nacional ver o crescimento sustentável da economia. Posso dizer o quanto me decepcionaram os efeitos negativos das crises financeiras internacionais sobre as taxas de crescimento. O mesmo ocorre agora com o presidente Lula, que lastima a queda dos 5% de crescimento do ano passado para o ponto quase zero de 2009. Mas isso é efeito de ciclos e conjunturas. O que independe deles é o “estilo de desenvolvimento”. Quando se acrescenta o adjetivo sustentável, não se quer dizer apenas que tenha continuidade no tempo, pois os ciclos continuarão a ocorrer e a afetar as taxas de crescimento. Quer dizer, isso sim, que não seja predatório dos recursos não-renováveis nem do meio ambiente em geral.

Ora, em matéria de crescimento econômico, estamos assistindo no pós-Real a uma volta ao passado. O espírito dos anos 70, do “milagre econômico” dos governos militares, voltou à cena: um “desenvolvimentismo produtivista”, que não busca a compatibilidade entre crescimento econômico e a geração de novas formas de energia, muito menos de restrição às emissões de gases-estufa. Quase voltamos ao “bendita poluição” dos anos 70, que significava mais fábricas e menos miséria. Se na época essa visão já não se justificava, menos ainda hoje.

Essa captura do novo pelo velho, esse renascer no Brasil de uma cultura do desperdício, do patrimonialismo e da ocupação predatória do território vêm juntos com a neutralização de forças renovadoras, agora cooptadas. É o caso do próprio PT, que trocou a luta contra os resquícios do Estado Novo na legislação sindical e a bandeira da ética na política pelo que há de mais arcaico em nossas práticas políticas. Daí que falar de “reformas” passou a ser politicamente incorreto; e crescer a qualquer preço, prova do sucesso.

Não quero ser pessimista, menos ainda em época de celebração. Mas, como alertava o conselheiro Acácio, as consequências vêm sempre depois. Temo, reitero, que o pós-Real esteja sendo vivido como se, assegurada a estabilização, bastasse “pau na máquina” e o futuro do País estaria garantido. Entretanto, há muita construção ainda a ser feita e boa parte dela diz respeito às instituições e ao comportamento. Quando se trata de mudança cultural, se pelo menos não engatinhamos, retrocedemos. O ideal seria avançar muito mais.

Fernando Henrique Cardoso, sociólogo, foi presidente da República

quinta-feira, 2 de julho de 2009

O real entrou para a elite

Isso é bom? Sim. A força da moeda reflete o novo peso do país no cenário global. O problema é que ficam mais expostas antigas ineficiências da economia brasileira
Por Fabiane Stefano | 28.05.2009 | 00h01

Revista EXAME -

O aumento da volatilidade e a desvalorização da moeda sempre foram o comportamento típico do câmbio no Brasil quando ocorriam tumultos na economia. Foi o que se viu no segundo semestre do ano passado, quando o real voltou a oscilar bruscamente e chegou a perder 40% do valor frente ao dólar. Nos últimos meses, a economia mundial permaneceu instável. Mas o real inverteu a tendência. Tornou-se a moeda número 1 em valorização entre as mais relevantes do mundo - até 25 de maio, o real registrava alta de 14%, cotado a 2,03 por dólar. Com isso, entrou para uma espécie de pelotão de elite composto das moedas vencedoras na crise, ao lado do rand sul-africano e do dólar australiano. Na ponta oposta, rublo, iene e franco suíço acumulam queda. "Se tudo continuar como está, o Brasil não será mais um país de moeda fraca e volátil", diz o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. "É um país hoje sério. Aquela história do De Gaulle não se aplica mais a nós."

O movimento de valorização do real, contudo, reativou um debate: contar com moeda mais forte é vantagem ou desvantagem para a economia brasileira? A corrente do contra é puxada por exportadores e economistas que apontam a perda de competitividade externa. Para os que defendem o fortalecimento do real como algo positivo, o mais importante é que ele representa uma chancela de que o Brasil está no clube dos países que enfrentam bem a crise e sairão dela antes. Ambos os lados têm suas razões, mas, para chegar a uma conclusão sobre o efeito total na economia, é necessário examinar com mais cuidado os argumentos.

Em primeiro lugar, é preciso considerar que há um fenômeno geral: más notícias que continuam a rondar os Estados Unidos depreciam o dólar. O recente alerta de que a dívida pública do Reino Unido pode ter sua classificação de risco rebaixada foi lido pelo mercado como um recado sobre o que pode acontecer com a própria nota dos Estados Unidos. Em contraste, o Brasil goza de uma projeção inédita em circunstâncias de crise. "Investidores internacionais veem o país numa posição relativamente confortável", afirma Paulo Mateus, economista do banco Barclays. A agência de avaliação de risco Moody’s, que ainda não incluiu o Brasil no grupo de países seguros para investimento, deu sinal de que agora a promoção pode sair. A recuperação do preço internacional de commodities como soja e açúcar é outro fator que tem ajudado o real. "O Brasil é grande exportador de produtos básicos e, quando o preço deles aumenta, o real também ganha valor", diz Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central. Com a reação das commodities, uma leva de investidores estrangeiros foi atraída para a Bovespa e estimulou a alta das ações. Outros vêm em busca de ganho com a taxa de juro - que, apesar de estar em queda, continua atraente. Essa entrada maciça de dólares vitamina ainda mais a moeda brasileira.

Entre as consequências positivas do real vigoroso está a possibilidade de um alívio fiscal. O fortalecimento da moeda diminuiu a dívida pública federal em 14 bilhões de reais. As empresas contabilizam efeito semelhante. Cálculos da consultoria Economática mostram que, no atual patamar do câmbio, o endividamento de 71 grandes companhias brasileiras de capital aberto deverá diminuir em 22 bilhões de reais. "Isso significa que os balanços do segundo trimestre apresentarão lucros maiores", diz Fernando Excel, sócio da Economática. Um real mais valorizado também reaquece um mercado que ficou fechado no auge da crise: o de captações externas. Petrobras, Odebrecht e Telemar já conseguiram levantar capital. A estimativa do mercado é que pelo menos 4 bilhões de dólares sejam captados por companhias brasileiras nos próximos meses. "Pela primeira vez, o Brasil é olhado de uma forma diferenciada nesse mercado", afirma Jean Pierre Dupui, diretor de operações estruturadas do banco Santander. Um exemplo disso ocorreu na emissão de bônus de dez anos da Petrobras, em fevereiro. A estatal obteve taxas melhores que a Pemex, petrolífera mexicana, que havia realizado uma operação parecida dias antes. Detalhe: o risco-país do México é menor que o do Brasil, fator que costumava explicar as captações a custo menor dos mexicanos.

No lado oposto, é claro que a valorização do real implica diminuição da competitividade. Os exportadores de produtos manufaturados, num cenário de demanda global fraca, são as principais vítimas. A AP Müller, fabricante gaúcha de couros, que exporta quase toda a produção para Ásia, Europa e Estados Unidos, registrou queda de 40% nas vendas desde o começo da crise. Até o início do ano, parte do tombo foi compensada pela alta na cotação do dólar. Agora, com o fortalecimento da moeda brasileira, a AP Müller encontra-se no pior dos mundos. "Um real mais fraco encobria custos que temos no Brasil", diz Cezar Müller, dono da empresa. "Agora, voltamos a ficar sem competitividade em muitos mercados." Eis aí, no exemplo da AP Müller, um efeito da valorização do real que nem sempre é bem compreendido: ela expõe ineficiências, entre as quais alta carga tributária, excesso de burocracia e precariedades na infraestrutura. O câmbio - que flutua conforme o comportamento de diversos fatores da economia - não é, porém, a solução para todos esses problemas.

Os 15 anos do Plano Real, segundo seus protagonistas

FHC, Itamar, Gustavo Franco, Pedro Parente, Gustavo Loyola e Júlio Gomes de Almeida analisam os avanços e desafios do Real
Divulgação
"O plano deu certo porque resistimos à tentação populista de aplicar mais um choque econômico", diz o ex-presidente Fernando henrique Cardoso
Por Giseli Cabrini | 01.07.2009 | 08h25

Portal EXAME -

No aniversário dos 15 anos do Plano Real, já é possível cravar que seu maior mérito foi ter acabado com a bagunça na economia brasileira. Após vários planos econômicos, tablitas, confiscos e outras fórmulas mirabolantes, o governo brasileiro finalmente conseguiu colocar em prática medidas capazes de debelar a hiperinflação. E, mais do que isso, o país mostrou-se maduro o suficiente para respeitar os contratos firmados, vencer a já histórica instabilidade política e seguir num rumo estável - mesmo governado por partidos diferentes.

"Não há comparação entre o Brasil de hoje e o Brasil de 15 anos atrás", disse o ex-presidente e ex-ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso.

Em entrevistas ao Portal EXAME, seis economistas e políticos que protagonizaram a criação e a implementação do Plano Real nos últimos 15 anos avaliaram, no entanto, que trata-se de uma obra com alicerces firmes, mas longe de estar concluída. A consolidação de uma nova etapa de crescimento sustentado ainda depende de ajustes monetários e institucionais. As reformas necessárias vão exigir um esforço imenso da sociedade e incluem a modernização tributária, política, trabalhista e previdenciária do país.

Os governos Itamar Franco e FHC conseguiram avanços macroeconômicos enormes no controle da inflação. O governo Lula não promoveu rupturas e manteve a prioridade no combate aos preços. Ao mesmo tempo, livrou o país dos choques cambiais e trouxe as taxas de juros para patamares mais civilizados.

Esse continuísmo na política econômica contribuiu para que o Brasil construísse uma imagem no exterior bem diferente da de grande parte de seus vizinhos latino-americanos. O risco-país despencou, a Bolsa disparou e os investidores estrangeiros hoje parecem estar uma lua-de-mel com o Brasil. O maior teste para o país foi a atual crise. O Brasil aparece neste momento em situação bem mais confortável que os países desenvolvidos – os mesmos cujas políticas sempre admirou.

Para dar um novo salto e se equiparar a economias ainda mais pujantes como a chinesa, no entanto, o Brasil ainda precisará avançar muito. Com juros de um dígito, o Brasil terá a chance de resgatar a área de infraestrutura. Há gargalos nas rodovias, ferrovias, portos, energia e saneamento. Além disso, o país também precisa reduzir a carga tributária – uma das maiores do mundo. Para isso, terá de reduzir gastos públicos com funcionalismo, desinchar a máquina estatal e apostar em reformas.

Abaixo seis protagonistas do Plano Real fazem uma avaliação dos progressos e desafios econômicos do país:

Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente da República (1995-2002) e ex-ministro da Fazenda (1993-1994): Não há comparação entre o Brasil de hoje e o Brasil há 15 anos. Além de uma doença econômica, a hiperinflação foi um flagelo social e uma ameaça política. Aumentava a pobreza, concentrava a renda, impedia o país de se desenvolver e colocava em risco a democracia recém- conquistada. Nenhum dos avanços obtidos nesses 15 anos teria sido possível se a inflação não tivesse sido derrotada.

O plano deu certo porque resistimos à tentação populista de aplicar mais um choque econômico. Acreditávamos que a sociedade entenderia a sua lógica e que voluntariamente daria seu apoio à nova moeda, sem que o governo tivesse de reescrever contratos e congelar preços.

Demos dois passos em um só: derrotamos a inflação e mostramos que o Brasil estava maduro para um novo modo de relação entre o governo e a sociedade, entre o estado e o mercado. Hoje a herança do Plano Real está incorporada ao patrimônio do país. A necessidade de novas reformas, porém, está aí a desafiar os governos a não se acomodar com a realidade presente.

Itamar Franco, ex-presidente da República (1992-1994): O Brasil vive hoje uma das mais importantes etapas de sua história. No entanto, é preciso um esforço conjunto para dar continuidade ao que foi iniciado lá trás. O Plano Real nos deu as bases, agora é preciso buscar soluções adequadas para que esse processo siga adiante. As reformas fiscal e tributária, que dariam sustentação ao Plano Real, não foram feitas. A juventude de hoje não sabe o significado para o país de termos banido a inflação absurda com a qual estávamos acostumados a conviver.

Além do controle inflacionário, o Real foi vitorioso uma vez que conseguimos controlar os preços e ao mesmo tempo respeitar todos os contratos firmados. O mais importante de tudo é que o Real promoveu a manutenção do Estado de direito.

Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central (1997-1999): Reduzir a inflação acumulada em 12 meses para patamares inferiores a 10% foi fundamental para que nós pudéssemos promover a desvalorização da moeda em 1999. Nós cumprimos a primeira etapa de uma grande missão ao controlar a inflação e iniciamos reformas importantes para assentar a economia. Entre elas, estão as privatizações, a reforma previdenciária, a renegociação de dívidas com os Estados, a reorganização do sistema bancário e a implantação da Lei de Responsabilidade Fiscal.

A agenda do crescimento é um prolongamento natural da agenda da estabilização e isso eu dizia desde 1995. As reformas a serem feitas não podem se restringir apenas ao equilíbrio fiscal, mas abranger as empresas de forma a ampliar a formação bruta do capital fixo do setor privado via redução das taxas de juros e pela não absorção total dos recursos da poupança pelo setor público.

Pedro Parente, ex-ministro-chefe da Casa Civil (1999-2002) e ex-ministro do Planejamento (1999): O Real representa avanços importantes tanto do ponto de vista macroeconômico - com o novo regime de metas da inflação - quanto institucional - uma vez que o governo Lula manteve a política econômica da administração anterior.

O que ainda não foi feito e é responsabilidade de todos os governos foram reformas mais profundas tanto do ponto de vista tributário quanto trabalhista e previdenciário no sentido de reduzir impostos que embutem custos muito altos, principalmente para as empresas. Outro ponto a ser aprimorado é a estrutura dos gastos públicos, que já era ruim e piorou muito diante do aumento de despesas com pessoal.

Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central (1995-1997): O Plano Real foi uma medida transformadora e de avanço para a economia brasileira no sentido de acabar com a inflação elevada e crônica, mas não esgota o que deve ser feito para garantir um crescimento sustentado com uma melhor distribuição de renda e diminuição da pobreza.

Muitas das coisas positivas que vivemos agora foram viabilizadas lá atrás com a implantação do Plano Real. Entre elas estão o retorno do crédito de longo prazo e os juros na casa de um dígito. Uma das condições para que os agentes econômicos invistam em um mercado é a confiabilidade e isso não é construído da noite para o dia.

Outro fator importante que contribuiu muito para esse processo foi a alternância de poder sem perda da qualidade na política econômica. No entanto, apesar de todos os avanços, não dá para parar e dizer que a obra está completa. Parafraseando o velho ditado: o preço da estabilidade é a eterna vigilância.

Júlio Sérgio Gomes de Almeida, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda (2006-2007): Apesar do avanço fabuloso que foi feito em termos de controle da inflação, há ainda uma indexação de preços e tarifas, principalmente em serviços, que resiste. Alguns contratos de longo prazo insistem nessa fórmula quase de forma automática. Isso precisa ser mudado.

Embora a crise mundial deixe como herança nefasta problemas estruturais de competitividade que podem afetar o Brasil no longo prazo, o país tem todas as condições de retomar e sustentar crescimento nos próximos anos.