segunda-feira, 31 de maio de 2010

A contenção policial no domingo e a base teórica do Tolerância Zero

Por José Maria Nóbrega Jr. – Doutor em Ciência Política UFPE, Pesquisador do NICC, Professor da Faculdade Maurício de Nassau e Coordenador do Instituto Teotônio Vilela de Pernambuco

No último domingo, dia 30 de maio de 2010, as polícias pernambucanas elaboraram um programa de repressão qualificado que foi elogiado pela população, pela imprensa e por acadêmicos. Isso mostra como o trabalho elaborado com planejamento resulta em segurança e controle da violência. Mas, qual a origem teórica dessa política de contenção?
A base desse trabalho policial está no Tolerância Zero, que muitos afirmam se tratar de política neoliberal na conduta da segurança, mas, na realidade, busca conter as práticas delituosas antes que elas ocorram.
O artigo seminal de Wilson e Kelling (1982), “Broken windows: the Police and neighborhood safety”, foi o ponto de partida do programa de segurança pública de Nova Iorque e de outras cidades, o Tolerância Zero. As broken Windows não se mostram como uma teoria elaborada. Seria mais uma série de “noções” onde uma delas tem como base uma teoria “involutiva” do crime, onde este começaria pequeno, cresceria e se tornaria grande. Teria como base a ausência de autoridade, de ordem nos espaços públicos. Esses espaços se tornariam amplos para a prática de delitos quando da ausência do estado como autoridade, como mantedor da ordem (Soares, 2008: 170).
As janelas quebradas seriam uma alusão aos espaços públicos vertidos de pequenas incivilidades. Pichações, urinar em público, bêbados na rua, moradores e meninos de rua, invasões de áreas públicas e privadas, dentre outros levariam a comportamentos destrutivos do espaço urbano dando a impressão de que não existe ordem. Com esses alargamentos, o crime seria o próximo passo.
Essa teoria tem como base analítica a intenção de medir a relação causal entre desordem e criminalidade. Parte de um princípio normativo que define desordem como um comportamento inadequado também relacionado a pequenas incivilidades. A malemolência no controle social por parte das autoridades públicas abriria espaços para práticas delituosas advindas do comportamento desordeiro.
O estudo de Wilson e Kelling (1982) revolucionou as análises científicas da moderna criminologia norte-americana. O foco da teoria é o ambiente abandonado pelo poder público que geraria espaços oportunos de práticas desordeiras ou delituosas. Com a presença do ator estatal e de sua disposição para agir reprimindo, o controle do comportamento desviante evitaria o crime no futuro.
Skogan (1990) realizou uma pesquisa em algumas cidades americanas para tentar medir o impacto da desordem na criminalidade. Apontou para uma forte correlação entre desordem social e criminalidade, onde a sua pesquisa – que foi baseada num total de 13.000 pessoas residentes entrevistadas em Atlanta, Chicago, Houston, Filadélfia, Newark e São Francisco – demonstrou que a desigualdade, pobreza e desenvolvimento econômico tinham pouca relação com o crime, mas as desordens provocadas por espaços abandonados e comportamentos advindos da falta de controle social estariam na raiz da criminalidade naquelas cidades analisadas.
Kelling e Coles (1996) demonstraram a relação causal entre criminalidade violenta e a não repressão de pequenos delitos e contravenções. Apontaram que a polícia americana veio abandonando seu caráter de controle e manutenção da ordem pública no século XX, para dedicar-se exclusivamente ao combate à criminalidade. O aumento da violência estaria, segundo os autores, ligado a mudança de estratégia adotada pela polícia. A prevenção do crime também era atributo da polícia e, com o passar do tempo, ela arrefeceu seu caráter preventivo apenas dedicando-se a combater a criminalidade. O papel do policial como agente da comunidade, entrando e convivendo com a comunidade foi abandonado favorecendo o aparecimento de escotilhas sociais para a prática delituosa.
Kelling e Coles (1996) demonstraram a necessidade de criação de uma relação de confiança entre a comunidade e a polícia para a geração de accountability por parte daquela. Sem confiança institucional seria praticamente impossível manter a ordem pública e, ao mesmo tempo, combater à criminalidade violenta. A confiança seria o combustível para uma relação de reciprocidade entre a comunidade e a polícia que depende muito dessa relação para solucionar crimes. Por isso, seria de fundamental importância o policiamento comunitário para a criação do vínculo de confiança entre a polícia e os indivíduos da comunidade em questão.
O abandono, por parte do estado, da manutenção da ordem pública leva ao recrudescimento da criminalidade, pois das pequenas janelas quebradas (pequenas incivilidades como apontado por Soares (2008) como aquelas encontradas nas gangues juvenis reprimidas pela polícia no domingo em Boa Viagem), geram-se espaços mais amplos de oportunidades e ambientes de violência que, das janelas quebradas, ao restante da casa ou do edifício, numa linguagem metafórica, toda a estrutura social desmorona. As pequenas incivilidades geram os pequenos delitos e desses para o crime mais violento, como os homicídios, por exemplo, pode ser apenas um estágio.

Bibliografia:
KELLING, George; COLES, Catherine M. (2003,) Fixing Broken Windows: Restoring Order and Reducing Crime in Our Communities. New York: Free Press.
SKOGAN, Wesley (1990), Disorder and decline: crime and the spiral of decay in American neighborhoods. Berkeley: University of California Press.
SOARES, Gláucio A. D. (2008), Não Matarás. Desenvolvimento, Desigualdade e Homicídios. Ed. FGV. Rio de Janeiro.
WILSON, James Q. and KELLING, George (1982), “Broken Windows: the Police and neighborhood safety”. Atlantic Monthly.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Debate PSDB x PT


Segunda-feira as 10h na Faculdade de Direito do Recife, teremos o debate PT x PSDB- Diferenças dos governos Lula e FHC e o que se pode esperar de Serra e Dilma na presidência.Com André Regis (PSDB) e Maurício Rands.
Mais informações no site: http://dadsfdireitoufpe.blogspot.com/

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Debate entre André Regis e Maurício Rands para download

Disponível para Download o debate entre André Regis e Maurício Rands na Rádio Jornal:

Debate entre André Regis e Maurício Rands na Rádio Jornal AM (PE) (18-05-2010)



http://www.4shared.com/audio/9HTy-pD7/Debate_com_Andr_Regis_e_Maurci.html

No dia 24/05 André Regis e Maurício Rands estarão no Debate:

 É possível uma eleição plebiscitária no Brasil?

Com a mediação do Prof. Dr. Adriano Oliveira as 9h da manhã no Auditório da Pós-Graduação de Ciência Política da UFPE (14º andar do Centro de Filosofia e Ciências Humanas) - Entrada Franca

Download da Tese Os homicídios no Nordeste brasileiro – dinâmica e causas

Após a palestra com o doutor em Ciência Política e pesquisador do Núcleo de Estudos de Instituições Coercitivas e da Criminalidade (NICC-UFPE), José Maria Nóbrega Junior, no dia 18 de maio (terça-feira) disponibilizamos para download sua tese de doutorado: Os homicídios no Nordeste brasileiro – dinâmica e causas



http://www.4shared.com/document/D1qDxLUr/Os_Homicidios_no_Brasil_no_Nor.html

Clique acima no link para download da tese



Obrigado a todos que compareceram.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

André Régis e Maurício Rands participam de debate na UFPE

Evento marca o início de uma série de encontros, que deverão acontecer até o mês de setembro, sobre as eleições 2010


O Núcleo de Estudos de Estratégias e Política Eleitoral da UFPE promove, nesta segunda-feira (24/05), o debate É possível uma eleição plebiscitária no Brasil?, com a participação dos cientistas políticos André Regis e Maurício Rands.O evento, aberto ao público, acontecerá às 9h, no auditório da Pós-Graduação de Ciência Política, localizado no 14º andar do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH) da Universidade.

O encontro é o primeiro de um ciclo de debates, que serão realizados até o mês de setembro, sobre as eleições deste ano, marcadas para outubro. A mediação ficará por conta do coordenador do Núcleo e professor adjunto do departamento de Ciência Política da UFPE, Adriano Oliveira.

SERVIÇO
Debate: É possível uma eleição plebiscitária no Brasil?
Convidados: André Régis (Cientista Político) e Maurício Rands (Cientista Político e Deputado Federal)
Mediação: Prof. Dr. Adriano Oliveira
Data: 24/05 (segunda-feira)
Horário: 9h
Local: Auditório da Pós-Graduação de Ciência Política da UFPE (14º andar do Centro de Filosofia e Ciências Humanas)
Entrada Franca

terça-feira, 18 de maio de 2010

Curso de Ciência Política Comparada com André Regis

Um debate sobre direitos e partidos políticos, sistemas de governo e Justiça Eleitoral

Clique para ampliar

No Brasil, o voto direto e secreto está previsto no art.14, da Constituição Federal, em um capítulo dedicado aos “Direitos Políticos”. É nele que também estão os requisitos do sufrágio universal: obrigatório para maiores de 18 anos; facultativo para analfabetos, maiores de 70 anos, maiores de 16 e menores de 18. Normas que disciplinam o sistema eleitoral brasileiro e norteiam os cidadãos na hora de votar. Nesta composição, entram em cena os partidos políticos, também definidos no art. 17, da CF, com regras específicas de atuação, autonomia, direito a fundo partidário e acesso gratuito ao rádio e à televisão, na forma da lei. É neste ambiente de discussão, que também mostrará os sistemas eleitorais e de governo; a importância do voto consciente; o papel da Justiça Eleitoral e do Ministério Público que o Instituto Teotônio Vilela realiza o curso: “Ciência Política Comparada”. As aulas gratuitas acontecem nos dias 20 e 27/05 e 10/06, das 09h às 12h, na sede do instituto, bairro do Derby. As inscrições devem ser feitas no email: itvpernambuco@gmail.com ou no fone: 3423.8771 (SEMPRE das 14h às 17h). Há 75 vagas disponíveis para os interessados. Os alunos recebem certificado.
No comando dos encontros está o cientista político e presidente do ITV, André Régis Doutor em Direito (UFPE) e Ph.D em Ciência Política, pela New School for Social Research, de Nova York. Em 2010, 127.464.143 milhões de brasileiros, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral, vão às urnas para eleger o presidente da República, governadores, senadores, deputados federais e estaduais. No exterior, os eleitores correspondem a 0,082% do total apto a votar. Em uma população estimada em 193.733.795 milhões de habitantes (dados IBGE), temos um número mais que expressivo de cidadãos que ajudam a montar o quebra-cabeça político deste país quando escolhe o representante porta-voz deste povo. Tramita no Congresso Nacional um Projeto de Lei, de iniciativa popular, de autoria do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), que pretende tornar mais rígidos os critérios de inelegibilidades, ou seja, de quem não pode se candidatar.

Sistema eleitoral brasileiro - fundamenta-se em dois princípios básicos: o republicanismo e o presidencialismo. Assim, o presidente da república é o mandatário maior da nação. Após o movimento conhecido como Diretas Já e com o advento da Constituição brasileira de 1988, as eleições no país tornaram-se diretas, com sufrágio universal a todos aqueles que a Constituição confere direitos políticos. A Constituição determina que os mandatários do povo para cargos do Poder Executivo (Presidente, Governadores e Prefeitos), sejam eleitos através do sistema majoritário, isto é, aquele que obtiver maior votação conquista a vaga. Para ser eleito em primeiro turno, faz-se necessário que o candidato tenha 50% mais um voto, dos chamados válidos. Caso isso não ocorra, haverá um segundo turno, em que os dois candidatos mais bem colocados no pleito disputarão a preferência popular. A eleição do Presidente, Governador e Prefeito implicará na do seu vice, companheiro de chapa.
As eleições para o Senado também são majoritárias. A Constituição prevê que sejam eleitos três senadores para cada unidade da Federação. São 78 pelos 26 estados e três pelo Distrito Federal, perfazendo o total de 81. A legislatura do Senado tem duração de oito anos. O Senado Federal, no entanto, renova-se de quatro em quatro anos.

Sistema proporcional - Já para as vagas de deputado federal, deputado estadual e vereadores, a Constituição adotou o sistema proporcional de votos. Esse, contestado por muitos, faz com que em alguns lugares o voto de um cidadão chegue a valer mais de 20 vezes o de outro. Isso porque cada Estado elegerá no mínimo oito e no máximo setenta deputados, de um total de 513 vagas existentes na Câmara dos Deputados.

Sistema de governo - Em ciência política, o sistema de governo é a maneira pela qual o poder político é dividido e exercido no âmbito de um Estado. Os mais mais no mundo são: parlamentarismo, presidencialismo e semipresidencialismo. O Brasil adota o segundo, no qual há uma nítida separação dos poderes entre o executivo e o legislativo. A noção de separação estrita surgiu de forma clara na obra de Montesquieu, como resultado de suas observações da história dos sistemas políticos da França e dos Estados da Grã-Bretanha, e foi primeiramente adotada de maneira sistemática pela constituição dos EUA, ao instituir o cargo de presidente.


CONFIRA O CRONOGRAMA DO CURSO:

Dia 20/05
1. Direitos Políticos
1.1 Sufrágio Universal (voto facultativo, obrigatório);
1.2 Plebiscito, referendo, iniciativa popular;
1.3 Condições de elegibilidade;
1.4 Sobre inelegibilidade.


Dia 27/05
2. Partidos Políticos
2.1 Criação, funcionamento, permissões e proibições;
2.2 Autonomia, fundo partidário e acesso gratuito à TV e rádio;
2.3 Personalidade jurídica e estatuto.
.

Dia 10/06
3. Sistemas eleitorais e Sistemas de governo
3.1 República, presidencialismo e parlamentarismo;
3.2 Eleições majoritárias e proporcionais;
3.3 Análise modelo de governo: americano, europeu e brasileiro;
3.4 Papel da Justiça Eleitoral e do Ministério Público no processo eleitoral.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Homicídios no Nordeste brasileiro em debate no ITV


O doutor em Ciência Política e pesquisador do Núcleo de Estudos de Instituições Coercitivas e da Criminalidade (NICC-UFPE), José Maria Nóbrega Junior, faz palestra, no dia 18 de maio (terça-feira), sobre: “Os homicídios no Nordeste brasileiro – dinâmica e causas”. O debate acontece na sede do Instituto Teotônio Vilela, às 17h, bairro do Derby. As inscrições são gratuitas e devem ser feitas no email: itvpernambuco@gmail.com ou no fone: 3423.8771 (SEMPRE das 14h às 17h). Há 75 vagas disponíveis para os interessados. 
No cronograma estão: “O que diz a literatura especializada: o papel do cientista político”; “Homicídios: fenômeno social e institucional”; “A dinâmica dos homicídios no Brasil e no Nordeste;” “Os homicídios e suas relações causais” e “os casos exitosos de políticas públicas no confronto dos homicídios”. O objetivo do encontro, de acordo com José Maria, é explicar quais as reais causas das mortes por agressão no Nordeste, se há relação com a pobreza e a desigualdade, o impacto da criminalidade e do tráfico e o papel do poder público.
Breve currículo: José Maria Nóbrega Junior - Doutor em Ciência Política pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Pesquisador do NICC - Núcleo de Estudos em Instituições Coercitivas e da Criminalidade da UFPE. Professor da Faculdade Maurício de Nassau. Áreas de atuação: Ciência Política, Sociologia, Economia Humana, História e Criminologia. Linhas de pesquisa: Teoria Democrática, Poderes Coercitivos, Relações Civil-militares, Criminalidade Violenta (Homicídios) e Segurança Pública.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Curso de Direito Constitucional e Cidadania

Curso de Direito Constitucional e Cidadania com o professor Mário Guimarães dia 13/05/2010 das 9 as 12h. Tema: Controle de Constitucionalidade. Inscrições via email: itvpernambuco@gmail.com ou pelo telefone 81 3423.8771. 


André Regis fala sobre a importância do Ministério da Segurança

O cientista político André Regis comenta a importância da criação do Ministério da Segurança.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Cientista Politico, José Maria Nóbrega fala sobre a proposta do Ministério da Segurança

Doutor em ciência política pela UFPE, especialista na área de segurança publica, José Maria Nóbrega, elogia proposta do Ministério da Segurança por parte de José Serra.

André Regis comenta sobre o projeto Ficha Limpa

Hoje no seu canal do Youtube, o cientista político André Regis fez um comentário sobre o Projeto Ficha Limpa
Confira:



quarta-feira, 5 de maio de 2010

10 anos da Lei de Responsabilidade Fiscal

No Brasil, a Lei de Responsabilidade Fiscal, é um dispositivo do governo brasileiro que tenta evitar com que prefeitos e governadores endividem as cidades e estados mais do que conseguem arrecadar através de impostos. Tal medida é necessária já que diversos políticos costumavam, no final de seus mandatos, iniciar diversas obras de grande porte, deixando a conta para seus sucessores.

Abaixo André Regis, cientista político e presidente do ITV-PE comenta sobre

terça-feira, 4 de maio de 2010

sábado, 1 de maio de 2010

TOTAL DESRESPEITO AO SER HUMANO, COM INSTITUIÇÕES FUNCIONANDO (SE É QUE FUNCIONAM) DESSA FORMA, CADA VEZ MAIS FICA DIFÍCIL AFIRMAR QUE O BRASIL É UMA DEMOCRACIA.



OPERAÇÃO-PADRÃO
Publicado em 27.04.2010

A catadora de lixo Cláudia Marques está desde sexta-feira aguardando liberação do cadáver do filho. Ontem, os legistas decidiram manter movimento, que vem afetando famílias de vítimas da violência
Gustavo Maia
gmaia@jc.com.br

“Só quero voltar para casa e enterrar meu filho”. A casa a que se refere a catadora de lixo Cláudia Maria Marques, 27 anos, está a cerca de 125 quilômetros do Recife, na zona rural de Palmares, Zona da Mata. O corpo do filho, Allyson José Marques, 10, morto na última sexta-feira, permanece desde então na sede do Instituto de Medicina Legal (IML), em Santo Amaro, área central do Recife. O drama da família de Allyson, que dorme no IML desde a madrugada de anteontem, por não ter dinheiro para ir e voltar de Palmares, e de outras famílias que aguardam liberação de corpos, deve continuar pelos próximos dias. Ontem à noite, em assembleia no Sindicato dos Médicos, legistas não aceitaram a proposta do governo e decidiram continuar com a operação-padrão, que dura 45 dias.

“O governo avançou um pouco no que diz respeito às condições de trabalho, mas a questão salarial e de carga horária ficou abaixo do que a categoria esperava”, confirmou Carlos Medeiros, presidente da Associação dos Peritos e Médicos-legistas. Ontem, no fim do expediente, havia 59 cadáveres à espera de liberação. De acordo com um funcionário do instituto, o caminhão frigorífico alugado pela Secretaria de Defesa Social para suprir a carência de câmaras frias do IML já está sendo utilizado.

A assessoria de imprensa da SDS informou que o órgão só vai se pronunciar quando for notificado oficialmente da decisão. Segundo a assessoria, na última sexta-feira Carlos Medeiros esteve reunido com o secretário de Defesa Social, Wilson Damázio, e com representantes da secretaria de Administração para, juntos, formularem proposta para acabar com a operação-padrão.

O drama de Cláudia no IML do Recife começou na sexta-feira. Ela viajou sozinha à capital para tentar liberar o corpo do filho. Não conseguiu e voltou a Palmares, gastando o resto do dinheiro que tinha para comprar a passagem. O caixão e o transporte do corpo de Allyson, conseguiu pedindo favor a um vereador. No domingo, cansada de ligar para o IML e receber respostas vagas, pediu dinheiro emprestado a vizinhos do Assentamento Fetape, onde mora, e voltou ao Recife acompanhada pelo marido, Edilson Silva, 19, pela mãe, Irene Maria de Araújo, 53, e por uma vizinha, que voltou de carona no início da manhã de ontem.

“Só saio daqui com meu filho”, afirmou. Ouviu que a liberação ocorreria “lá pela quarta ou quinta-feira”. “Se for preciso, durmo todos os dias aqui. Será que esses médicos não têm coração?”, questionou.

Às 17h30 de domingo, com fome e sem dinheiro suficiente, os quatro foram ajudados pelo dono de uma barraca, que doou comida ao grupo. Passaram a noite cochilando num banco de concreto, usando mochilas como travesseiro. De Palmares, vieram só com as roupas do corpo e com as vestes que serão usadas por Allyson no sepultamento.

Em meio a tanta confusão, Cláudia parece ainda não ter tido tempo de absorver a dor da perda do filho. Quando lembra da última sexta-feira, alterna emoção e incredulidade. “Ele estava brincando e de repente disse que sentia dor muito forte na barriga. A gente tentou acudir, mas morreu poucas horas depois”, conta. Há um mês, a criança havia caído de pé de goiaba. “O médico passou antibióticos e disse que meu filho não tinha fraturas. Nunca mais tinha reclamado de dor”, lembra.

No final da manhã de ontem, após conceder entrevista à Rádio Jornal, uma surpresa. Uma senhora, que não quis ser identificada, ofereceu abrigo ao grupo, em sua casa, na Tamarineira, Zona Norte. À tarde, o secretário de Defesa Social, Wilson Damázio, informou que o corpo será liberado hoje.


José Maria Nóbrega Jr.Doutor em Ciência Política - UFPE
Pesquisador do Núcleo de Estudos de Instituições
Coercitivas e da Criminalidade (NICC-UFPE)
Professor da Faculdade Maurício de Nassau

www.josemarianobrega.blogspot.com