sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Fonte: Pauta em Ponto

Brasil mantém a liderança mundial de juro

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central define hoje a taxa básica de juro que irá vigorar no país pelos próximos 45 dias. Na mais realista das hipóteses, o Brasil levará a taça de campeão mundial de juros, um título que nos tem perseguido ao longo de todo o governo Lula e do qual não temos nada do que nos orgulhar.

Segundo levantamento feito pela consultoria UpTrend, se o BC optar por manter o juro básico em 8,75% anuais, hipótese tida como mais provável pelo “mercado”, a taxa real brasileira – ou seja, descontada a inflação projetada para os próximos 12 meses – permanecerá em 4% ao ano. Pode parecer pouco, diante do passado recente, quando o juro real chegava a 10%, mas é uma excrescência perto do que praticam as demais nações neste momento de retomada ainda tênue da economia mundial.

O segundo país no ranking é a Indonésia, com 3,6% anuais. Na média, o juro real nas 40 economias acompanhadas pelo UpTrend é de 0,1% negativo. Isso mesmo: nesse grupo, metade pratica taxas iguais a zero ou menores do que a inflação corrente em suas economias. E por que fazem isso? Porque o juro alto asfixia a atividade econômica, além de provocar distorções na formação de preços básicos da economia, como o do dólar.

Façamos a comparação com economias de porte similar à nossa, ou os propalados “emergentes” aos quais os analistas creditam a retomada mundial. Na China, que acaba de tomar medidas para esfriar sua buliçosa atividade interna, o juro real está em 3,3%, em terceiro lugar no ranking mundial. Na Rússia, em 0%, e na Índia, em 9% negativos. Pra não esquecer: no Brasil, são vistosos 4%.

E nossos vizinhos latino-americanos, como se comportam? Na Argentina, o juro real é de 2%, no Chile, 1,9%, e na Venezuela, de menos 7,6%, sempre de acordo com o levantamento feito periodicamente pela UpTrend. Isso significa que em todos estes países dá-se mais estímulo para que a atividade econômica se desenvolva do que no Brasil de Lula, Dilma e Meirelles.

Vale observar também como se comportam os bancos centrais nas economias mais robustas. Nos EUA, o juro real é negativo (-2,5%). Na Inglaterra, idem: -2,3%. Pouco mais conservador, o Japão pratica taxa de 2% ao ano, ainda assim metade da nossa. E na Itália, a taxa é zero.

O juro elevado é a correia de transmissão que alimenta, por exemplo, a valorização da moeda brasileira. Capitais estrangeiros são atraídos pelas altas taxas e, ao ingressarem no país, ajudam a apreciar o câmbio, ou seja, tornam o dólar mais barato em relação ao real. E aí a consequência imediata é sobre o potencial exportador do país.

Com o dólar desfavorável, sofrem as vendas de produtos cujo preço varia menos e que, portanto, dependem mais da cotação da moeda para lucrar mais – ou seja, os artigos industrializados. Na outra ponta, as matérias-primas, cujos preços oscilam ao sabor do comportamento da demanda mundial, saem-se melhor, independentemente do valor da moeda americana.

Os juros altos e a supervalorização do real, que no ano passado escalou mais 33%, fazem com que o Brasil venha concentrando suas exportações nas chamadas commodities, ou produtos de pouca ou nenhuma elaboração fabril. “Como resultado, restou apenas a Embraer como fabricante de manufaturados entre as dez empresas que mais venderam ao exterior no ano passado, em termos de valor”, mostra o Valor Econômico em sua edição de hoje.

Nos últimos dois anos, 1.066 empresas brasileiras deixaram de exportar; só no ano passado foram 585 firmas a menos atuando no mercado externo. Até o número de grandes exportadores (com vendas anuais acima de US$ 100 milhões) caiu, de 260 para 223. O efeito global pôde ser medido na queda de 22% nas exportações brasileiras em 2009, a maior desde a década de 1950. A consequência disso foi terem produzido menos e empregado menos brasileiros. Como se vê, a cadeia dos juros altos é longa e bate no nosso bolso de várias maneiras, nenhuma delas positiva.

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